sábado, 1 de dezembro de 2007

Vento



Difícil esquecer o que me aconteceu esses dias atras, amigo. Nem sei como começo a te contar. Acho melhor começar pelo início.
Era alguma coisa em torno de dez e meia da noite, não sei bem ao certo. Não levei relógio. Faz algo como duas semanas. Como estava em casa cansado de ficar entre quatro paredes botei meus sapatos e fui dar uma volta na quadra. Havia chovido umas horas antes, então o tempo estava fresco.
Depois de uns cinco minutos de caminhada resolvi sentar-me num dos bancos daquela praça que tem um lago no centro. A iluminação estava razoável o bastante para ver tanto o céu quanto o fim da rua. Foi então que uma leve brisa morna começou a soprar. Mas se a noite estava fresca, de onde vinha aquela brisa, me perguntei. Será que o calor do dia resultou em um mormaço ou coisa assim? Mas sabe, foi o que pensei na hora. Nunca que eu ia imaginar aquilo.
Juro que depois disso eu ouvi meu nome. Eu estava sentado, apoiado com as mãos no banco deixando minha cabeça pender para trás, para ver melhor o céu e sentir melhor o vento, e ouvi meu nome. Como um suspiro aos meus ouvidos. Baixo e sinistro... longo e calmo.
Primeiro procurei quem tinha falado aquilo, mas não tinha ninguém ali, e juro por Deus que o suspiro tinha falado ao pé do meu ouvido. Aquilo me arrepiou até o último fio de cabelo.
Pois não é que enquanto eu estava ali, parado com minha cara de medo, a voz falou o meu nome de novo? Dessa vez não tive dúvida. Eu estava olhando para o lado certo e juro para você que não havia ninguém ali.
Levantei num pulo mas não consegui pensar em nada para falar. Só fiquei em pé, com os braços armados esperando algum sinal para sair correndo. O vento morno continuou soprando esse tempo todo. Mas o mais incrível vem agora. Senti aquele vento nos meus cabelos e não é que era como uma mão com cinco dedos que passava pela minha cabeça? E falou o meu nome de novo!
Aquilo foi o suficiente para mim. Saí correndo na hora.
Quando estava na metade da quadra de cima correndo feito o diabo corre da cruz, ouvi um som de vento balançar as árvores do parque e uma voz, como o assobio do vento, gritou o meu nome de novo. Nunca na vida corri tanto.
Hoje eu sei que foi exagero meu. Isso acontece comigo quase todos os dias quando passo no parque. No começo eu ficava assustado, mas hoje para mim é bem comum. Até já respondo a voz. Como te disse, agora é bem comum para mim conversar com o vento.

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