sábado, 1 de dezembro de 2007

A Fogueira


A fogueira crepitava enquanto a lenha se tornava um brilho forte. As chamas balançavam num vaivém lento, como uma valsa de fim de noite. E do meio das chamas as brasas que se desprendiam voavam como fadas do fogo a cada sutil brisa da madrugada. Sentados à beira do fogo não falávamos nada. A noite já tivera barulho o bastante e mesmo sendo tão jovens já começávamos a aprender o valor do silêncio.
Os rostos iluminados pelo fogo revelavam amigos, colegas e conhecidos. Cada qual com seu mundo expresso no rosto. Os cansados e suas olheiras fundas e olhos semicerrados. Os solitários e seu tédio electo. Os namorados e suas faces que se tocam. Os bêbados e seu sono etílico. Os menores olhando para os lados em busca de aprovação. Os mais velhos preocupados com a Segunda-feira. Os faladores e sua inquietação desconfortável. E por último o silencioso observador e um sorriso de fim de festa. De quem está em companhia boa, de quem tem dezoito anos..
O tempo passou aquela madrugada. E não parou mais. O fogo ao redor do qual tantos amigos se aqueciam no amanhecer frio de inverno já se apagou. Talvez outras chamas estejam acesas agora e eles continuem com seus rostos amigos iluminados pela luz viva que se desprende da matéria que compõe este mundo, e que extirpando da cor e da solidez dos seus combustíveis cria a luz. E esta luz que se apagará terá, para cada um que ao seu redor se reúne, um significado singular.
Mas a fogueira daquela noite quase tocava minha alma com seu calor, enquanto as fadas dançavam rindo de nossa presença, e desapareciam no ar, felizes por suas vidas curtas e quentes que duraram apenas alguns instantes, mas que não viram ninguém triste do nascimento até a morte. Porque aquela noite nós esperávamos o sol nascer. Um fogo mais duradouro, que verá bem mais que nós, mas que nunca saberá como é estar na companhia de bons amigos ao redor de uma fogueira, numa noite fria.

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