A cidade era como um modelo de gesso. Não parecia real. Tudo era branco. Calcário. A luz leste fazia com que meu olho esquerdo se fechasse por excesso de luz. Doía a vista. As ruas eram de um branco amarelado, de pedras compostas em mosaico. Um desenho anárquico agrupado pelo cimento de brancura impressionante.
E um menino descia a rua. Vento em seus cabelos negros e soprando sua pipa para o alto. A ladeira era íngreme. Ele corria com pernas magras e longas. A pipa amarela então ascendeu até o azul do céu e o menino parou de correr. Num barranco onde a grama verdejava e as margaridas floriam, ele olhou para o alto e contemplou seu brinquedo que dançava no céu de primavera.
Era como um sol. Era como uma lua. Não havia outro igual. Era o mais luminoso onde quer que estivesse. E soltou uma gargalhada que parecia um soluço de felicidade, enquanto as aves lhe faziam sombra no rosto e passavam das laranjeiras e limoeiros do grande quintal próximo, entre a linha de sua pipa, até desaparecerem nas colinas depois de duas casas.
Me disseram que ele era o pequeno Bob. Bom de ver brincar. Roubava limão e comia com sal. Chutava bola. Jogava pedra. Se escondia no mato. Vivia de joelho ralado. Fiquei no banco da rua, sentado, até que o sol subiu alto demais e o menino foi para casa almoçar. A senhora que me falou dele também foi almoçar.
Peguei minhas coisas debaixo do banco. Minha sacola de roupas e minha trouxa de comida, e fui embora da cidade, pela estrada mais verde que havia por ser atravessada. A floresta que havia à frente parecia mais fresca. Segui meu caminho ainda por muitos anos, sem jamais me esquecer da risada daquele menino. Era como meu filho.
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